domingo, 7 de agosto de 2011

Historiadora faz resgate da cultura italiana em Cordeirópolis

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Qual a relação da imigração italiana com o inicio da industrialização e a valorização social do trabalho?

Gi by Gi
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A imigração que influiu na industrialização e valorização social do trabalho foi a do pós guerra:
A historiadora Luciana Facchinetti é filha de Giovanna e Giuseppe, testemunhas daquele purgatório e que buscaram no Brasil não o paraíso, mas um lugar onde pudessem simplesmente trabalhar e recomeçar a vida. O depoimento do casal está guardado no Memorial do Imigrante, em São Paulo. Instigada pela vida dos pais e por um trabalho no próprio Memorial, em que ajudou a digitalizar os Livros de Entrada de Imigrantes de 1882 a 1907, a professora recorreu a outro acervo da instituição, 24 mil fichas produzidas pelo CIME (Comitê Intergovernamental para as Migrações Européias), para reconstituir a história de alguns personagens e avaliar a influência desses imigrantes no desenvolvimento da indústria brasileira. Ela defendeu a dissertação de mestrado junto ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, em fevereiro.

"Eles cruzaram o Atlântico essencialmente por causa do país destruído, mas também pelo desmoronamento de um sonho. Criados no fascismo, sob a promessa de Benito Mussolini de um país unido, grande e forte, foram pagos com moeda falsa. Perderam a infância e parte da adolescência, passaram por muita fome", conta Luciana. Ela recorda que, além do conflito mundial, a população amargurou uma guerra civil de 20 meses entre os que insistiam em salvar o Duce e os partigiani (ligados à resistência). "Nos depoimentos é comum a lembrança de que eles tinham quatro inimigos: os fascistas e os alemães de dia, os partigiani e o bombardeio americano à noite. Não sabiam para que lado olhar, levavam tiros por todos os lados".

O Memorial do Imigrante registra a entrada de sete italianos em 1870. Até 1913, o total exato é de 1.291.280, um mar de gente que motivou incontáveis estudos sobre sua contribuição à agricultura, comércio e indústria, principalmente no Estado de São Paulo, e sobretudo para nossa formação cultural. Nas décadas seqüentes o fluxo diminui acentuadamente e é quase nulo nos anos da guerra, havendo então a retomada de certa intensidade por volta de 1950.

Casal de imigrgantes italianos em plantação de café"Queria entender como esses imigrantes do pós-guerra, apesar de terem vindo em menor quantidade, influíram na economia brasileira", explica a historiadora. O interesse se justifica, pois havia uma diferença importante em relação aos patrícios da virada do século: a especialização. "Se os que chegaram antes eram analfabetos em 90%, os que vieram depois eram alfabetizados e quase todos sustentando alguma qualificação", acrescenta. A qualificação era um critério importante para aprovação do governo brasileiro, que incentivava a indústria e não se interessava em receber novas levas de mão-de-obra barata.

Noção do ofício - Luciana lembra que uma das bases do fascismo é o nacionalismo, sentimento difícil de impor a uma Itália dividida em muitas regiões, cada qual com seu dialeto. "Mussolini via na alfabetização o meio de unificar o país, moldar uma consciência de cidadão e transmitir sua ideologia, criando uma geração de fascistas em todo o território. Obrigava a família a colocar os filhos da escola, no mínimo até o quarto ano primário", conta. Educação, mas até determinado nível, pois o ditador reduziu incentivos ao ensino médio, fechou escolas técnicas e elitizou a formação superior. Não queria seres pensantes.

Então, como o imigrante conseguiu sua qualificação, perguntava a historiadora aos entrevistados, obtendo como resposta o corporativismo de ofício que prevalece na Itália desde tempos feudais. "As crianças saíam da escola e iam aprender uma profissão com um parente ferramenteiro, um vizinho alfaiate. Mesmo aqueles do sul, que representam 60% da minha amostragem, tinham pais agricultores mas aprenderam a fazer pão, por exemplo".

Assim, vieram para o Brasil ferramenteiros, pedreiros, carpinteiros, mecânicos, marceneiros, padeiros, motoristas, barbeiros. Não possuíam certificados, mas conheciam o ofício. Também vieram diplomados como engenheiros, técnicos altamente especializados e professores. "Um professor com importantes publicações na área da aeronáutica, que por colaborar com o regime fascista ficou sem espaço na Universidade de Roma, foi autorizado pelo governo a trabalhar na Embraer. Vale salientar que engenheiros e especialistas italianos tiveram uma participação importante na construção do primeiro avião brasileiro, o Bandeirante", informa Luciana.

Sem patrões - Imigrantes do pós-guerra também teriam promovido inovações, desde que o parque brasileiro oferecesse condições para a aplicação de seus conhecimentos. Na lista de 16 entrevistados, a pesquisadora aponta exemplos deste espírito empreendedor. Um deles idealizou um projeto de ferro a vapor, inviabilizado pela falta de equipamentos. Outro, alfaiate, ofereceu o desenho de um paletó à Pierre Cardim, que não quis lhe pagar royalities. Antonio Midea, ex-pedreiro, é hoje o segundo maior empresário da área de construção civil. O economista Edoardo Cohen tornou-se renomado escritor, ator e pesquisador. Luiz de Papaiz, que desautorizou a utilização da entrevista, marcou seu nome no setor de ferramentas.

Os casos de sucesso, contudo, não refletem todo o peso desses imigrantes na economia. "Meu pai aprendeu mecânica com meu avô, um técnico em teleférico, e marcenaria com um tio dele. Trabalhou na Matarazzo para garantir o sustento da família, até montar uma marcenaria. Esse pessoal não suportava a idéia de ficar sob ordens de patrões. Noventa por cento deles criaram micros, médias e grandes empresas, de padaria a indústria metalúrgica. Eles queriam realmente fazer a América. E Brasil, Venezuela e Argentina, afinal de contas, também são América"

Il Divano Azzurro di Gio: Passi*

Il Divano Azzurro di Gio: Passi*: "Sospendo i passi per chiudere gli occhi. Sospendo il cuore per non aver paura del male. Sui tuoi occhi sospendo l'immagine. Narciso e Boccad..."